O Tzic era um rapaz pré-histórico. Um rapaz pré-histórico tal e qual como todos
os outros, usava uma espécie de toga de pele de tigre e tinha uns cabelos
enormes que chegavam mesmo a tocar no
chão. Tzic podia ser um rapaz normal, mas o que lhe ia acontecer era definitivamente
descomunal.
Tinha o Tzic acabado de chegar da escola quando
observou uma grande chama branca na sua caverna, no seu quarto, no seu pequeno
refúgio que cheirava a asas de morcego assadas. Aproximou-se da chama e, por ser tão curioso, meteu uma mão dentro
da chama e depois um pé e finalmente o
corpo todo. Tzic não sabia o que era aquilo, mas pouco ou nada se importava com
isso, queria viver aventuras tal como o Indiana Stones.
Quando chegou ao outro lado nem queria acreditar no
que via. Limpou bem os óculos de pedra, cheios de cola feita à base de baba de
um tigre-dentes-de-sabre e, para seu espanto, estava num mundo novo, num sítio
desconhecido a que não podia chamar de casa, de maneira alguma. Foi mergulhado
num mar de medo e ignorância que submergiu graças ao chamamento de um homem egípcio
que lhe disse:
- Mexe-te, temos muito que fazer! E olha lá, que tipo de roupa é essa? E esse cabelo? Parece que vieste de outro mundo!
- E na realidade até vim - disse o Tzic muito
baixinho.
Devem estar a pensar que o Tzic e a sua tribo
falavam mais ou menos assim: “ Bugggg Uhgggg Chakalabai! “, mas estão bastante
enganados, eles falavam como nós.
O Tzic olhou em volta, viu milhares de homens a mexerem-se com pedras nas mãos para as
colocarem numa grande construção de pedra, em forma de triângulo, enquanto um
senhor com um ar imponente (ainda mais imponente do que o do chefe da tribo do
Tzic) os observava com um sorriso aberto, mas com uns olhos tristes, o que
fazia com que o Tzic não percebesse se o homem estava triste ou feliz.
Passaram
meses e Tzic continuava deslumbrado com a tecnologia daquele
mundo novo, acompanhando diariamente a
construção daquela pirâmide. No fim da construção houve uma cerimónia
comovedora: levavam uma múmia pequena para a grande construção, tornando-se
assim o seu túmulo para toda a
eternidade. Era uma cerimónia triste, pois Tzic descobriu que a pequena múmia era na
verdade o filho do homem com um olhar imponente.
Tzic era
demasiado preguiçoso para fazer o que quer que fosse, por isso passava os dias escondido por detrás
de uma pedra, queimando as costas com o Sol escaldante e impiedoso. Comia
lagartos que ia encontrando por aqui e ali, mas naquela situação não se podia
dar ao luxo de ser esquisito. Passaram-se tempos e tempos e o Tzic naquela vida, sem fazer mais nada, à
espera de voltar ao passado, à sua terra, ao seu mundo, à sua realidade. E foi
assim que num dia do acaso a chama voltou a aparecer e o Tzic, mais uma vez,
voltou a entrar nela, ansioso por ir para outro dia, para outro mundo ou quem
sabe voltar ao passado e rever a sua família.
Agora estava num país chamado Grécia, onde nasceu a
Democracia. O Tzic considerava tudo aquilo bastante estranho, o facto de o povo
ter muito poder. Para ele e para a sua tribo não havia democracia, o que o
deixou desapontado. Achava piada ao
facto das pessoas estarem todas numa fila organizada à espera para escreverem
num papelzinho um nome e depois deitá-lo dentro duma grande caixa. Tzic também
foi votar, mas mais uma vez a tecnologia do futuro ganhou-lhe, de modo
que colocou um desenho de um mamute, pois na sua tribo eles desenhavam
nas paredes das cavernas, não havia nem letras , nem números, nem papel. Tzic
ficou espantado com aquilo tudo, mas os deuses eram o que mais o fascinavam. Na
sua tribo eles só veneravam o Grande
Chefe (ninguém sabia o nome ou a idade do grande chefe, estava nos segredos dos
deuses), mas aqui na Grécia veneravam
muuuuiiiitos deuses. Pessoalmente, Tzic
teve um encontro com os deuses gregos, não sabendo se foi um sonho, mas a verdade é que teve e por isso eu vou
contar-vos mais ou menos como foi: Tzic teve uma aula com a Atena, a deusa da
sabedoria, nadou num mar incrível com Poseidon, teve um confronto, em que viu a
vida passar-lhe à frente dos olhos, com Hades, o deus da guerra e dos mortos,
teve um encontro romântico com a deusa da beleza, Afrodite, e enfrentou uma
terrível tempestade com Zeus, o pai de todos o deuses. Depois, Hermes, o mensageiro dos deuses, apareceu-lhe com a chama de novo e o Tzic voltou
a ir para outro mundo, outra realidade, outro local.
Tzic tinha ido parar a Roma, onde assistiu a uma renhida luta de gladiadores
que o deixou de boca aberta durante todo o combate. Já no final da luta, o Fortio deitou o Maximus ao chão e
espetou-lhe o punhal no peito, tingindo
a areia de vermelho. Mais tarde, participou numa corrida de quadrigas em que
uns animais chamados cavalos guiavam uma espécie de transporte. Claro que o Tzic ficou em último, porque o
futuro e a tecnologia uniram forças para o atrapalhar.
Depois de atravessar a chama foi parar à época
medieval onde os monges copistas estavam a passar livros complicados com letras
ainda mais complexas. Tzic também fez um livro que nem ficou tão mal, cheio de
cenas de caça que permaneciam na sua memória desde pequeno. Desta vez a
tecnologia fez tréguas com o Tzic.
Após mais
uma viagem, Tzic chegou a Pisa e ficou
deslumbrado com as vestes das pessoas e com as casas que eram muito mais belas
que as cavernas da sua tribo. O ponto alto da sua visita a Pisa foi falar com Galileu
Galilei e ir a sua casa dar uma espreitadela no seu telescópio. Tzic ia
desmaiando por ver outros planetas tão iguais à Terra e, no entanto, tão diferentes. Mais tarde, depois de recuperar
do choque entrou de novo na chama ardente para ir parar a um futuro
desconhecido.
Agora, Tzic encontrava-se na Apollo XI com Neil Armstrong.
Nem podia acreditar... Tzic estava incrédulo por estar no espaço, ele nunca imaginou tal façanha! Tzic sentiu
uma sensação cósmica ao pousar os seus pés na Lua usando um fato muito grande e
pesado para si próprio. Por isso, mal a
chama se abriu decidiu despedir-se da Lua indo para outro mundo e outro lugar. Mais uma vez, a
tecnologia fez-lhe um K.O.
Agora Tzic estava em 2015. Olhou em volta e sentiu-se perdido, como
se fosse um a mais ali. As roupas das pessoas eram simples, mas ao mesmo tempo sofisticadas. Os prédios
eram altos, eram até mais altos que o
Grande Chefe ( acreditem que o Grande Chefe era muito alto), o que o fez sentir-se do tamanho de uma formiga. Tzic
olhou para a janela de uma casa térrea onde observou crianças da sua idade em
frente a um ecrã, a que estas pessoas do futuro dão o nome de televisão. Achou
muito estranho o facto de ter percorrido séculos de tempo e agora chegar aqui e
pronto, não encontrar vestígios de nada, só pessoas atarefadas e crianças
pegadas a uma televisão. Tzic experimentou a internet ultrarrápida numa coisa de nome computador. As crianças divertiam-se a jogar jogos no
computador enquanto Tzic ficava feliz com uma bola improvisada. De repente, Tzic sentiu-se atrasado e achou que as pessoas
deste tempo eram estranhas por não darem valor ao que tinham e quererem sempre
mais e mais. Agora, queria voltar para casa e rever as suas coisas: a sua bola improvisada, as asas de morcego e o seu quarto. Mas a
chama não voltou e Tzic ficou preso nesta realidade. Uma
realidade que não era a sua, uma realidade que não lhe pertencia.
Nesse momento Tzic
foi até a uma praia ver o mar e as ondas, o Sol e o céu, a areia e as conchas. Foi até ao sítio mais
bonito que conhecia, também para se habituar a este novo mundo. Pois Tzic tinha o passado e o futuro, tinha
séculos e milénios, mas acima de tudo tinha o presente.
Filipe Cruz 6ºA (Concurso "Uma Aventura Literária...2016")
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