Por
ti. Foi por ti que me tomaram como louca.
Por
ti. Por ti tomei o teu coração como meu e me uni
a ti, deixei a minha razão de existir e
penetrei na tua.
Até que aquele dia
fatal chegou e todos os meus choros e lágrimas
derramadas revelaram que deixei de acreditar no amor a mim própria, na minha, só minha alma. Essa
alma que ainda recorda os tempos doces em que te observava deitado, estendido
na areia, esperando apenas que o tempo se imortalizasse e terminasse aquele
espaço de história. Esses tempos
doces em que a chuva não era um incómodo. Esses tempos
doces em que, um momento, um olhar, tudo era um pretexto para estarmos juntos.
Esses tempos em que a certeza da tua existência,
se sobrepunha a tudo, inclusive a nós
mesmos. Esses tempos em que a essência
do caminho para a felicidade se desintegrava de tudo o que a compôs ao longo do
tempo. Esses únicos tempos, em
que o sofrimento, a dor pelo outro, se mostrava a maior alegria. Nesses tempos
em que a dúvida parecia morrer
enquanto nascia. Esses tempos doces da inocência.
E
agora, nada me fará recuperar o tempo
perdido a mirar aquelas letras vermelhas consumidoras da mente de todos os que
as contemplam e sentem tristemente o seu significado, que atua como um fogo
ardente, possuidor de tudo. Toda a frenética
energia gasta em vão, para poder sair
daquela cama bolorenta, enquanto observava aqueles doidos inconscientes. Sentir
essas paredes enferrujadas pelo tempo e tristeza, a dor que será para alguns como
eu, o revestimento do seu corpo por aquelas vestes, revelando as letras do
letreiro desse edifício diabólico: "HOSPÍCIO". Olhar os
enfermeiros caminhando pelo soalho imundo, enquanto permitem que este se
liberte da opressão eternamente
imposta, através do ranger.
Porque
tu me amaste, porque o teu imenso carinho persuasivo me revelou o sentido da
vida. Porque me criaste levemente como o ar, que há tanto tempo não sinto na minha
face rosada, oferecendo-me toda a dignidade do orvalho pousado nas folhas
verdes e belas das plantas. Porque o mundo só tem
o valor que merece, quando desaparece das nossas vidas e crava no nosso coração a saudade por uma
vida revitalizada e enérgica.
E
tudo isto, porque eu, Manuela, te quis retribuir todo o amor que me ofereceste,
abandonando o meu mundo por ti. Pela nossa vida. Juntos. Eternamente.
Campeonato Nacional de Escrita Criativa