terça-feira, 17 de março de 2015

A aventura de um Castanheiro


Sou um castanheiro e sei que o meu destino é o de florir na primavera, dar sombra no verão, frutos no outono (as castanhas) e despir-me no inverno.

O meu crescimento foi lento nos primeiros anos, mas assim que consegui olhar mais longe, ainda antes de atingir a minha maior altura - cerca de 30 metros - percebi que ali perto não tinha família, não vivia no souto dos castanheiros ou na floresta...

Primeiro fiquei preocupado com a solidão, mas deixei de pensar nisso, soube pelos pássaros que passavam no céu que me procuravam para pousar, que pertencia a uma família de árvores antiquíssimas vindas da Ásia, que descendia e pertencia à família das Fagáceas.

Ainda nem tinha folhas, mas sabia que iam seriam verdes escuras, dentadas e tinha a certeza de que seriam caducas.

Aproveito para explicar, que desde o Paleolítico que o castanheiro acompanha o Homem e tem para ele grande importância. As tribos pré-romanas chamavam-lhe a árvore-do-pão, já que o seu fruto, a castanha, era um alimento rico e servia de alimento para os exércitos em campanha e foi um dos mais importantes farináceos em muitas regiões, antes da chegada da batata e do milho à Europa. A castanha foi utilizada na alimentação das pessoas e dos animais, um complemento importante na agricultura e, em muitos casos, o pão dos mais desfavorecidos.

Agora com meio século, estou quase a atingir o meu tamanho definitivo, o meu tronco é maciço e a minha copa aumentou, comecei por mostrar as minhas flores e os meus frutos - castanhas saborosas e gordinhas de casca brilhante, por volta dos 25 ou 30 anos.

Do que gosto mesmo é de sentir a brisa que corre entre os meus ramos e as minhas folhas e me traz os cheiros de outras regiões. Mas também do alto dos meus ramos, admirar o sol e o azul do céu, a lua e as estrelas, admirar os seres vivos para quem durante o dia e à noite sirvo de casa, e observar os homens, sempre muito ocupados.

Na minha folhagem e nos meus ramos protejo todas as espécies de aves que ali quiserem fazer o seu ninho, e a roedores que se abrigam debaixo das minhas fortes raízes, dou sombra a famílias e crianças brincalhonas nos dias de descanso e ajudo a proteger os homens que trabalham no campo do sol abrasador do verão e da chuva que surgia de repente, como do frio do inverno.

Ano após ano sempre tentei dar a todos, o que tinha de melhor: abrigo para aves e animais, as castanhas, a madeira nobre dos meus ramos para os homens fabricarem os seus objetos e a lenha como combustível.

Segundo o livro “Avós dos Nossos Avós” de Aquilino Ribeiro que uma criança abrigada na minha sombra num dia de sol lia em voz alta, os castanheiros levam dezenas de anos a crescer, “trezentos no seu ser e trezentos a morrer”, em alguns casos podem atingir mil anos de vida.

Eu, em meio século de vida já assisti a diversas transformações: vi o trânsito a aumentar; assisti à passagem no céu duns pássaros de metal enormes, que soube chamarem-se aviões; observei a mudança dos trajes das pessoas e dos seus comportamentos sem perceber porque andavam cada vez mais depressa e preocupadas, anos antes ouvia-as a conversar, alegres em qualquer lugar, mais tarde apenas o barulho dos carros; fiquei com medo quando nas estações mais quentes via à distância os incêndios que, nos comentários que ouvia, diziam destruir árvores da minha espécie, talvez da minha da família, quem sabe…

As pessoas olham-me com respeito e agradecem o que lhes dou, e eu também.

Muitas gerações de pessoas irão passar por mim, com toda a certeza irei observar crianças, que depois serão jovens e adultos, e mais tarde com certeza irei vê-los velhos e isto irá repetir-se, durante muito tempo.

A aventura é crescer, para me mostrar e ver o mundo que me rodeia.

 


Bernardo L. Pinho, 5º A (Concurso "Uma Aventura Literária 2015" da Ed. caminho)

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