Sou um castanheiro e
sei que o meu destino é o de florir na primavera, dar sombra no verão, frutos
no outono (as castanhas) e despir-me no inverno.
O meu crescimento
foi lento nos primeiros anos, mas assim que consegui olhar mais longe, ainda antes
de atingir a minha maior altura - cerca de 30 metros - percebi que ali perto
não tinha família, não vivia no souto dos castanheiros ou na floresta...
Primeiro fiquei preocupado
com a solidão, mas deixei de pensar nisso, soube pelos pássaros que passavam no
céu que me procuravam para pousar, que pertencia a uma família de árvores
antiquíssimas vindas da Ásia, que descendia e pertencia à família das Fagáceas.
Ainda nem tinha
folhas, mas sabia que iam seriam verdes escuras, dentadas e tinha a certeza de
que seriam caducas.
Aproveito para
explicar, que desde o Paleolítico que o castanheiro acompanha o Homem e tem
para ele grande importância. As tribos pré-romanas chamavam-lhe a
árvore-do-pão, já que o seu fruto, a castanha, era um alimento rico e servia de
alimento para os exércitos em campanha e foi um dos mais importantes farináceos
em muitas regiões, antes da chegada da batata e do milho à Europa. A castanha foi
utilizada na alimentação das pessoas e dos animais, um complemento importante
na agricultura e, em muitos casos, o pão dos mais desfavorecidos.
Agora com meio
século, estou quase a atingir o meu tamanho definitivo, o meu tronco é maciço e
a minha copa aumentou, comecei por mostrar as minhas flores e os meus frutos - castanhas
saborosas e gordinhas de casca brilhante, por volta dos 25 ou 30 anos.
Do que gosto mesmo é
de sentir a brisa que corre entre os meus ramos e as minhas folhas e me traz os
cheiros de outras regiões. Mas também do alto dos meus ramos, admirar o sol e o
azul do céu, a lua e as estrelas, admirar os seres vivos para quem durante o dia
e à noite sirvo de casa, e observar os homens, sempre muito ocupados.
Na minha folhagem e
nos meus ramos protejo todas as espécies de aves que ali quiserem fazer o seu
ninho, e a roedores que se abrigam debaixo das minhas fortes raízes, dou sombra
a famílias e crianças brincalhonas nos dias de descanso e ajudo a proteger os homens
que trabalham no campo do sol abrasador do verão e da chuva que surgia de
repente, como do frio do inverno.
Ano após ano sempre tentei
dar a todos, o que tinha de melhor: abrigo para aves e animais, as castanhas, a
madeira nobre dos meus ramos para os homens fabricarem os seus objetos e a lenha
como combustível.
Segundo o livro
“Avós dos Nossos Avós” de Aquilino Ribeiro que uma criança abrigada na minha
sombra num dia de sol lia em voz alta, os castanheiros levam dezenas de anos a
crescer, “trezentos no seu ser e trezentos a morrer”, em alguns casos podem
atingir mil anos de vida.
Eu, em meio século
de vida já assisti a diversas transformações: vi o trânsito a aumentar; assisti
à passagem no céu duns pássaros de metal enormes, que soube chamarem-se aviões;
observei a mudança dos trajes das pessoas e dos seus comportamentos sem
perceber porque andavam cada vez mais depressa e preocupadas, anos antes ouvia-as
a conversar, alegres em qualquer lugar, mais tarde apenas o barulho dos carros;
fiquei com medo quando nas estações mais quentes via à distância os incêndios
que, nos comentários que ouvia, diziam destruir árvores da minha espécie, talvez
da minha da família, quem sabe…
As pessoas olham-me
com respeito e agradecem o que lhes dou, e eu também.
Muitas gerações de
pessoas irão passar por mim, com toda a certeza irei observar crianças, que
depois serão jovens e adultos, e mais tarde com certeza irei vê-los velhos e
isto irá repetir-se, durante muito tempo.
A aventura é
crescer, para me mostrar e ver o mundo que me rodeia.
Bernardo L. Pinho, 5º A (Concurso "Uma Aventura Literária 2015" da Ed. caminho)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarParabéns filho por esta bela história que escreveste.
ResponderEliminarParabéns menino inteligente.
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