Aquela cor. Sim,
aquela imprevisível cor primária. Aquela cor
esmagadora...
O
tempo. Os afazeres. A realidade. Tudo se parecia amargamente unir ali, como uma
barreira, uma fortaleza.
Mas
eu tinha de lá estar. Tinha de me
identificar como presente. Senão, sentir-me-ia
aprisionado por mim mesmo. Pela culpa. Pela verdade.
E
aquele imponente objeto inanimado, cuja missão
consistia na emissão de luzes, parecia
mais entusiasmado do que o ser humano lhe permitia, enquanto exercia a sua real
função: impedir
acidentes. Porquê, se ninguém passava por ali?
Nunca ninguém passava por ali.
Era triste aquela rua, tão solitária, tão
impressionantemente solitária.
Talvez
deva agora, simplesmente, compreendê-lo.
Talvez ele deseje vingança pela sua tão imutável e cruel solidão, a sua realidade.
Aquele olhar intenso e revelador, o suor e sangue interiores e tão mortos, tão desfeitos. Tão invisíveis.
Porquê? Porque é que o mundo é tão insensível? Porquê? Talvez, porque
apenas as nossas sensações e sentimentos
egoístas, prevalecem
sobre a vontade imensa de ver sobre nós
mesmos, sobre o nosso acalorado regaço...
E
o tempo que não para. Que não se deixa levar
por exigências dos nosso ser
rodeado de egoísmo. E a hora, e a
altura que se imortaliza quando nos ausentamos do mundo, apenas por um milésimo de segundo. E
a reunião. E o emprego. E a
realidade.
E
esse Atraso, o dono e senhor das nossas mentes descuidadas, estaria para vir,
para entrar como obriga ditatorialmente essa rotina incansável. Esse brilho no
olhar. Esse problema sem solução.
De
súbito, renasce a
vontade de me ausentar deste mundo e voltar ao meu interior. Onde o tempo vem e
volta num único friccionar de
dedos. Onde os momentos se esclarecem ou complicam. E vejo dois caminhos. Qual
seguir? Qual o destino a que levariam? Apenas o pensamento poderia revelar a
estrada pela qual optar. Apenas eu mesmo. Poder-se-ia determinar tudo ali, sem
delongas. Cerrei a minha alma e apenas caminhei perante a fé iluminadora.
E
o semáforo deixou-se
seduzir pela compaixão obtida, por todos
os pacientes seres diante dele situados. A luz esverdeada deixou-se acontecer e
um sorriso brilhante nasceu perante o nosso ser interior
Cheguei
a horas à reunião. Cheguei a casa,
com a minha família pacientemente
acordada. Apenas não cheguei a horas
ao encontro que marcara no dia anterior com a minha própria alma. É a vida, o tempo e a
realidade.
Ricardo
Guerra 6ºB
Campeonato Nacional de Escrita Criativa
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