quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Rasgou o papel, tomou a decisão


                                                                                                                                

                                                                                                                     

            Tanto. Porquê tanto e tão pouco? Porque o fizeste?

            Foram elas. Apenas e somente elas, as palavras que representaste naquela carta. Apenas elas me revelaram a verdade sobre ti. Sobre o que desejavas por ti mesma, pelo teu interior, pela tua essência.

         E agora, desapareceu tudo. Todo esse mundo que construímos passo a passo. Cada momento em que nossos simples corpos se uniam por si mesmos, sem qualquer problema, sem qualquer fortaleza a ultrapassar, em que os teus olhos brilhavam incandescentes como os tão doces e únicos corpos luminosos, denominados de estrelas. Nesses momentos em que um carinho se refletia brilhantemente na luz do mar, do mar que tomamos como nosso. Nesse mundo em que o cabelo se embalava à medida em que a felicidade se dispersava pelo vento. Os pés na areia, penetrados e congelados no tempo, como se quisessem sugar todo o amor incondicional em nós presente. Nesse planeta criado pelo nosso olhar, em que o amor se permitia superar ao poder interior da alma. Nessa vida mágica que construímos em que julgávamos poder enfrentar a realidade.

            Somente para nos sentirmos a nós, puramente a sós. Aconchegados no calor invisível da união. E para juntos percorrermos, passo a passo, a mesma aventura: a da real perceção da dimensão tão profunda que possui o Nós. A tua mão interiorizada na minha, como uma corrente inquebrável. Um beijo mais intenso do que qualquer outro. Porque mostrava amizade interna e imensa por aquele que é a eternidade num simples ser.

            Penetro então nesse lar. No nosso lar. Somente vejo essa junção de livros atafulhados que te ofereci sem qualquer destino ou fundamento. Essas molduras tão representativas, unidas entre si, às quais me incumbiste toda a minha dedicação. Os colchões ainda inundados da falsidade e dor que cada dia lhes mostrava, as paredes deterioradas, como que tentando libertar-se da verdade que apenas elas arrecadavam e prendiam.

            A liberdade. E agora a liberdade. Essa realidade distinta que me proporcionaste, pela tua honestidade ao revelares a tua falsidade perante mim. Perante a história que criaste sem qualquer piedade. Comigo. E essa porta revestida de ti e de mim abre-se e permite que me interiorize de que a vida reconstituir-se-á inevitavelmente, a essência dentro do meu corpo poderá agora penetrar somente na minha, só minha vida.

 

            Rasguei a tua carta. Rasguei o passado que criaste. Rasguei o tempo. Sem quaisquer ressentimentos... 
 
 

 
Ricardo Guerra  6ºB


Campeonato Nacional de Escrita Criativa

Sem comentários:

Enviar um comentário