Tanto.
Porquê tanto e tão pouco? Porque o
fizeste?
Foram elas. Apenas
e somente elas, as palavras que representaste naquela carta. Apenas elas me
revelaram a verdade sobre ti. Sobre o que desejavas por ti mesma, pelo teu
interior, pela tua essência.
E agora, desapareceu tudo. Todo esse
mundo que construímos passo a passo. Cada momento em
que nossos simples corpos se uniam por si mesmos, sem qualquer problema, sem
qualquer fortaleza a ultrapassar, em que os teus olhos brilhavam incandescentes
como os tão doces e únicos corpos luminosos, denominados de estrelas. Nesses momentos em
que um carinho se refletia brilhantemente na luz do mar, do mar que tomamos
como nosso. Nesse mundo em que o cabelo se embalava à medida em que a
felicidade se dispersava pelo vento. Os pés na areia,
penetrados e congelados no tempo, como se quisessem sugar todo o amor
incondicional em nós presente. Nesse planeta criado pelo
nosso olhar, em que o amor se permitia superar ao poder interior da alma. Nessa
vida mágica que construímos em que julgávamos poder enfrentar a realidade.
Somente para nos sentirmos a nós, puramente a sós. Aconchegados no calor invisível da união. E para juntos percorrermos, passo
a passo, a mesma aventura: a da real perceção da dimensão tão profunda que possui o Nós. A tua mão interiorizada na minha, como uma corrente inquebrável. Um beijo mais intenso do que qualquer outro. Porque mostrava
amizade interna e imensa por aquele que é
a eternidade num simples ser.
Penetro então nesse lar. No nosso lar. Somente vejo essa junção de livros atafulhados que te ofereci sem qualquer destino ou
fundamento. Essas molduras tão representativas, unidas entre si, às quais me incumbiste toda a minha
dedicação. Os colchões ainda inundados da falsidade e dor que cada dia lhes mostrava, as
paredes deterioradas, como que tentando libertar-se da verdade que apenas elas
arrecadavam e prendiam.
A liberdade. E agora a liberdade.
Essa realidade distinta que me proporcionaste, pela tua honestidade ao
revelares a tua falsidade perante mim. Perante a história que criaste sem qualquer piedade. Comigo. E essa porta revestida
de ti e de mim abre-se e permite que me interiorize de que a vida
reconstituir-se-á inevitavelmente, a essência dentro do meu corpo poderá agora penetrar somente na minha, só minha vida.
Rasguei a tua carta. Rasguei o
passado que criaste. Rasguei o tempo. Sem quaisquer ressentimentos...
Campeonato Nacional de Escrita Criativa
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