Meu único amor,
Sempre cheguei a casa, esse local
onde me separo dos falsos alicerces ao exterior. Largo o casaco e o chapéu de sempre, no local
de sempre. O meu corpo cansado tudo revelava sobre mim - a caminhada pela rua e
a passagem por tudo aquilo que sempre está igual e feliz como estava.
Só o meu mundo interior se revelava triste pela
mediocridade.
E foste tu quem me permitiste ser
quem sou, estar onde estou. Foste tu quem teve coragem de me mostrar uma nova
visão da
realidade, e do nós;
aquela, a primeira que me fez perder sem jamais me encontrar no seu sentimento,
no seu sabor, no seu olhar. Porque me tornaste diferente, sem me influenciar
por aquilo que a vida impõe.
Porque contigo superei aquilo que o meu corpo representa - a dor imensa por
perder a minha família.
Dava-te um beijo apressado, esperando aquele doce “Boa Noite”
que me desejaste com carinho, quando me outorgavas o poder sagrado da
chave do teu coração,
enquanto pensava que, pela consciência,
jamais te retribuí toda
a felicidade que mereces. A minha frágil
consciência.
Somente ela me impede de desfazer, todos os dias em que me encontro com ela.
Sim a outra. A segunda. A amante. Apenas a consciência me impõe
que, com uma lágrima
encare, todos os momentos em que entrei na casa dela, sorrindo
inconscientemente e esperando envolver-me nos seus lençóis, no seu espaço - por isso, todas as vezes em que vislumbras os
astros esperando e chorando minha chegada, ao amanhecer, quando me questionavas
qual a razão de não ter voltado a casa,
te respondia com uma desculpa. Porque sempre as desculpas travam o percurso da
vida, da verdade. Como o nosso.
Por isso, neste momento, devo
render-me e reconhecer que nunca me perdoarias se te contasse a mentira de que,
espero, nunca te tenhas apercebido. Por essa triste razão lês
esta carta. Porque tomei a decisão certa. Porque morrer envenenado
foi o correto.
E agora te peço: não
chores ao saber que fui eu que misturou todo aquele veneno na bebida especial
que me criaste, não chores por finalmente
perceberes que desfiz o amor que revelaste em tudo. Porque mereço, porque sou culpado dos
sacrifícios que, sem hesitar, por mim enfrentaste.
Porque tudo quis de ti, nunca soube
qual o real sentimento de amor. Apesar de sempre julgar que te amei. E
continuar a senti-lo.
Campeonato Nacional de Escrita Criativa
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