quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Quem tudo quer nada sabe


Meu único amor,


            Sempre cheguei a casa, esse local onde me separo dos falsos alicerces ao exterior. Largo o casaco e o chapéu de sempre, no local de sempre. O meu corpo cansado tudo revelava sobre mim - a caminhada pela rua e a passagem por tudo aquilo que sempre está igual e feliz como estava.

            Só o meu mundo interior se revelava triste pela mediocridade.

            E foste tu quem me permitiste ser quem sou, estar onde estou. Foste tu quem teve coragem de me mostrar uma nova visão da realidade, e do nós; aquela, a primeira que me fez perder sem jamais me encontrar no seu sentimento, no seu sabor, no seu olhar. Porque me tornaste diferente, sem me influenciar por aquilo que a vida impõe. Porque contigo superei aquilo que o meu corpo representa - a dor imensa por perder a minha família. Dava-te um beijo apressado, esperando aquele doce Boa Noiteque me desejaste com carinho, quando me outorgavas o poder sagrado da chave do teu coração, enquanto pensava que, pela consciência, jamais te retribuí toda a felicidade que mereces. A minha frágil consciência. Somente ela me impede de desfazer, todos os dias em que me encontro com ela. Sim a outra. A segunda. A amante. Apenas a consciência me impõe que, com uma lágrima encare, todos os momentos em que entrei na casa dela, sorrindo inconscientemente e esperando envolver-me nos seus lençóis, no seu espaço - por isso, todas as vezes em que vislumbras os astros esperando e chorando minha chegada, ao amanhecer, quando me questionavas qual a razão de não ter voltado a casa, te respondia com uma desculpa. Porque sempre as desculpas travam o percurso da vida, da verdade. Como o nosso.

            Por isso, neste momento, devo render-me e reconhecer que nunca me perdoarias se te contasse a mentira de que, espero, nunca te tenhas apercebido. Por essa triste razão lês esta carta. Porque tomei a decisão certa. Porque morrer envenenado foi o correto.

            E agora te peço: não chores ao saber que fui eu que misturou todo aquele veneno na bebida especial que me criaste, não chores por finalmente perceberes que desfiz o amor que revelaste em tudo. Porque  mereço, porque sou culpado dos sacrifícios que, sem hesitar, por mim enfrentaste.

            Porque tudo quis de ti, nunca soube qual o real sentimento de amor. Apesar de sempre julgar que te amei. E continuar a senti-lo.

 
Ricardo Guerra   6ºB

Campeonato Nacional de Escrita Criativa
 
                                                                                                                       

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