domingo, 24 de novembro de 2013

A Árvore dos Marcadores

                                        (baseado em factos reais, acho eu)

 
  Numa sexta-feira à tarde, porque não tinham aulas, Sílvia, David e Madalena foram até ao Canteiro das Mil Surpresas, na Rua da Botânica.

  Lá, havia árvores que davam croissants e havia outras que davam materiais de construção, como tijolos, martelos e alicates. Estas últimas apenas existem em redor do lago de argamassa (que também faz parte deste jardim botânico). Até havia árvores que davam outras árvores! Havia ainda flores-de-mel, que os palhaços desta cidade usavam em vez das flores de água, pois parece que as pessoas preferem ser salpicadas com mel do que com água, porque assim aproveitam para lanchar. Por esse motivo, cientistas e enólogos (provadores de vinho) de todo o mundo estão a trabalhar na flor-de-champanhe.

  O Senhor José, o vendedor de sementes e amigo de todos, cumprimentou os três amigos:

  -Ora viva, meninos. O que vai ser hoje? Talvez uma semente sarapintada da plantas-das-riscas ou uma semente camaleónica da árvore-transparente?

   As crianças adoravam comprar sementes ao Sr. José; até tinham o seu próprio Jardim das Maravilhas, em casa, com árvores-anãs (cujas sementes são enormes), árvores-gigantes (cujas sementes são microscópicas) e até mesmo árvores-de-delícia-líquida. Estas plantas possuíam um tronco oco, cheio de copos de plástico, e dos seus ramos, brotavam frutos, todos diferentes mas igualmente saborosos, que quando eram espremidos para os copos, davam o melhor sumo natural que existia.

  Para ter uma surpresa, o David fechou os olhos e colocou a mão no pote das sementes e retirou uma estranha semente triangular, com um arco-íris desenhado num fundo branco.

  -Essa semente são “protótipos”. Era suposto que delas nascessem      árvores-das-cores, mas acabaram por nascer árvores cinzentas, com um aspeto podre e tóxico. Por isso, foram logo transformadas em vários pares de mesinhas de cabeceira. Essa é a única que resta e eu devia tê-la deitado fora, mas estou a ficar velho e esquecido.

  -Levamo-la à mesma – afirmou a Madalena com convicção – E aproveitamos para levar também fertilizante evolutivo.

  Esta espécie de adubo tinha a capacidade de evoluir fosse o que fosse. Transformava uma semente em árvore em doze dias.

  Foram a correr para casa da Sílvia, onde ela tinha o seu Jardim das Maravilhas. Ela escavou, num instante, dez buracos para eles colocarem umas velhas sementes que guardavam na cave. Rapidamente, plantaram uma árvore da Sibéria que já nasce com neve e tudo; uma planta–nua que nunca tem folhas, o que cria um problema com a fotossíntese; três arbustos-voadores, pequenas plantas que levantavam voo até dez metros de altura e ficavam presas apenas por uma raiz finíssima;  uma planta-do-mar, uma árvore da qual crescem aquários nos ramos, onde as crianças iriam por os seus peixes- borboletas; dois arbustos-do-milho-moçambicanos, plantas que atingem, só por si, temperaturas entre os setenta e oitenta graus, o suficiente para fazerem pipocas (daí o nome arbusto-do-milho); uma flor–da-net cujas raízes são cabos elétricos e as pétalas são minicomputadores para as abelhas; e, é claro, a tal árvore-das-cores.

  Como era tarde, separaram-se e foram logo para casa. Só passados três dias, é que a Sílvia se lembrou de que não tinha colocado o tal fertilizante na   árvore-das-cores. Foi até ao seu jardim e reparou que a planta ainda tinha crescido pouco. Tinha apenas alguns centímetros e uma mísera folha. Pôs-lhe o fertilizante e uma tabuleta a dizer “Árvore-das-Cores”.

  Passados mais três dias, foi a Madalena que se lembrou do fertilizante, pois a Sílvia não lhe contou que já tinha tratado da árvore. Foi a casa dela, mas não estava ninguém. Na porta, lia-se um aviso “Fui comprar botas”, Mesmo assim, a Madalena foi ao jardim. Qual não foi o seu espanto quando viu a árvore ainda com poucas folhas, mas com ramos aguçados com a ponta em carvão e em forma de lápis. Deitou o fertilizante e riscou a tabuleta. Ao lado escreveu “Árvore-dos-Lápis”.

  Também caiu no erro de não contar ao David. Lógico que, três dias depois, lembrou-se ele e foi a casa da Sílvia. Mais uma vez, ela não estava e tinha deixado outro aviso que dizia ”As botas estragaram-se, fui comprar umas novas”. Também ele foi ao jardim e também ele ficou espantado ao ver a árvore, já com bastantes folhas, com os ramos mais arredondados com a ponta em pelo e em forma de pincel. Também ele despejou o fertilizante e também ele riscou a tabuleta. Depois escreveu “Árvore-dos-pinceis”.

  Passados mais três dias, por coincidência, foram os três ver como estava a árvore. Ficaram boquiabertos, de tal modo que a Sílvia até engoliu uma mosca. Tinha tantas folhas que quase não se viam os ramos, dos quais brotavam marcadores como se fossem frutos.

  Após um curto diálogo, todos concordaram em colocar uma nova tabuleta onde escreveram

                               “ÁRVORE DOS MARCADORES”
 
Nuno Pinto  6ºB

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