Ainda recordo esses
belos tempos.
Esses tempos doces em
que te observava deitado, estendido na areia, esperando apenas que o tempo se
imortalizasse e terminasse aquele espaço de história. Esses tempos doces em que
a chuva não era um incómodo. Esses tempos doces em que um passo, um momento, um
sorriso, um carinho, um olhar, tudo era um pretexto para estarmos juntos. Esses
tempos em que a certeza da tua existência, se sobrepunha a tudo, inclusive a nós
mesmos. Esses tempos em que a essência do caminho para a felicidade se
desagregava de tudo o que a compôs ao longo do tempo. Esses únicos tempos, em
que o sofrimento, a dor pelo outro, se mostrava a maior alegria. Nesses tempos
em que a dúvida parecia morrer enquanto nascia. Esse tempos doces da inocência.
Erraste, sabe-lo
melhor que eu. O mais profundo há de sempre revelar-se, o mais recôndito sempre
encontra a saída do abrigo e volta para junto dos seus. Tal como a mentira, tal
como a falsidade, a mediocridade que deverias representar para todos os que te
rodeiam. Ainda mal me pude reconstituir interiormente, da tristeza que cravaste
no meu coração, que espalhaste pela gravidade do que fizeste. Nunca pensei que
resistisses à bondade que aparentavas ter, à tua amizade por mim e por todos os
que te amavam incondicionalmente.
E agora pude descobrir
a tua verdadeira essência, o teu verdadeiro caminho, a tua verdadeira história,
não aquela que partilhaste comigo: por muito que o desejes, por mais
intensamente que acredites no futuro de uma vida melhor em família, há que ser
realista - os teus interesses, os teus desejos vencerão sempre, não permitindo
que vejas a luz do caminho para a infindável glória. É essa luz falsa que te
conduz, que te desorienta, que te seduz. É a verdade mais impiedosa que a vida
pode enfrentar.
Mostraste-me da forma
mais dura, que todos os sarilhos de que te salvei, apenas demonstraram a tua
outra face, essa face maldosa que agora se libertou
E agora apenas posso
olhar para trás...
Detrás de mim sinto
somente essa tão triste e nossa porta rugosa, já deteriorada por ventos e chuva
intensos, por trovões mais arreliadores que tudo. De fronte a mim, só te vejo a
ti. Só a ti. Enquanto partes.
O teu cabelo castanho
embala-se ao som do vento e o teu olhar de prata disfarça essa tão tua forma de
arrependimento escondido no recanto mais fundo do íntimo. Tudo se poderia
perder, desaparecer sem qualquer forma de regressar num pequeno toque, num
pequeno gesto. Um laço impenetrável, um poder imutável, uma história que se
desfaz...
Imagino-te mais tarde:
O teu esquecimento me terá raptado para que outro alguém te ocupe o coração.
Esquecerás certamente todas as promessas, todos os teus projetos de vida
comigo. Porque é que a vida será assim tão cruel?
E agora apenas posso
olhar para trás...
Ricardo Guerra 6ºB
Muito obrigado, professora!
ResponderEliminarMeu querido Ricardinho, não tens nada que agradecer! Estás de parabéns...continua a maravilhar-nos com as tuas palavras! bjinhos do coração
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