domingo, 11 de maio de 2014

E agora apenas posso olhar para trás...


            Ainda recordo esses belos tempos.

            Esses tempos doces em que te observava deitado, estendido na areia, esperando apenas que o tempo se imortalizasse e terminasse aquele espaço de história. Esses tempos doces em que a chuva não era um incómodo. Esses tempos doces em que um passo, um momento, um sorriso, um carinho, um olhar, tudo era um pretexto para estarmos juntos. Esses tempos em que a certeza da tua existência, se sobrepunha a tudo, inclusive a nós mesmos. Esses tempos em que a essência do caminho para a felicidade se desagregava de tudo o que a compôs ao longo do tempo. Esses únicos tempos, em que o sofrimento, a dor pelo outro, se mostrava a maior alegria. Nesses tempos em que a dúvida parecia morrer enquanto nascia. Esse tempos doces da inocência.

                 Erraste, sabe-lo melhor que eu. O mais profundo há de sempre revelar-se, o mais recôndito sempre encontra a saída do abrigo e volta para junto dos seus. Tal como a mentira, tal como a falsidade, a mediocridade que deverias representar para todos os que te rodeiam. Ainda mal me pude reconstituir interiormente, da tristeza que cravaste no meu coração, que espalhaste pela gravidade do que fizeste. Nunca pensei que resistisses à bondade que aparentavas ter, à tua amizade por mim e por todos os que te amavam incondicionalmente.                                    

            E agora pude descobrir a tua verdadeira essência, o teu verdadeiro caminho, a tua verdadeira história, não aquela que partilhaste comigo: por muito que o desejes, por mais intensamente que acredites no futuro de uma vida melhor em família, há que ser realista - os teus interesses, os teus desejos vencerão sempre, não permitindo que vejas a luz do caminho para a infindável glória. É essa luz falsa que te conduz, que te desorienta, que te seduz. É a verdade mais impiedosa que a vida pode enfrentar.

            Mostraste-me da forma mais dura, que todos os sarilhos de que te salvei, apenas demonstraram a tua outra face, essa face maldosa que agora se libertou

            E agora apenas posso olhar para trás...

            Detrás de mim sinto somente essa tão triste e nossa porta rugosa, já deteriorada por ventos e chuva intensos, por trovões mais arreliadores que tudo. De fronte a mim, só te vejo a ti. Só a ti. Enquanto partes.

            O teu cabelo castanho embala-se ao som do vento e o teu olhar de prata disfarça essa tão tua forma de arrependimento escondido no recanto mais fundo do íntimo. Tudo se poderia perder, desaparecer sem qualquer forma de regressar num pequeno toque, num pequeno gesto. Um laço impenetrável, um poder imutável, uma história que se desfaz...

            Imagino-te mais tarde: O teu esquecimento me terá raptado para que outro alguém te ocupe o coração. Esquecerás certamente todas as promessas, todos os teus projetos de vida comigo. Porque é que a vida será assim tão cruel?

            E agora apenas posso olhar para trás...
 
Ricardo Guerra   6ºB

2 comentários:

  1. Meu querido Ricardinho, não tens nada que agradecer! Estás de parabéns...continua a maravilhar-nos com as tuas palavras! bjinhos do coração

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